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O ano de 2022 foi marcado por grandes acontecimentos que estão pressionando o mercado globalmente. Guerras, inflação, tensões políticas internacionais e novas ondas de Covid-19 estão levando à redução do apetite de fundos de venture capital e private equity, ao encarecimento do crédito e ao aumento da pressão por maiores retornos dos negócios¹.

Uma evidência desse cenário global tem sido as enormes ondas de demissões (conhecidas como “layoffs”), cujos números dispararam em comparação aos anos anteriores. Estamos vivendo momentos de incertezas.

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Fonte: Layoff Charts, Layoffs.fyi

Sem previsão de mudança para 2023, as organizações estão sendo ainda mais cobradas por capacidade de adaptação, agilidade e responsividade em seus resultados. As práticas ágeis, que já se mostram como um modelo operacional amplamente adotado², precisam se consolidar para dar tração aos negócios ao invés de consumir recursos na busca por sua estabilização.

Nesse sentido, destacamos alguns fatores que poderão ameaçar ou alavancar as práticas ágeis da sua empresa ao longo de 2023:

1) Infraestrutura e tecnologia também precisam ser ágeis:

A adoção da agilidade, muitas vezes, se inicia com métodos de gestão, reorganização de times e processos. Isso, por si só, já é desafiador. Porém, depois de conquistar certa estabilidade metodológica, muitas equipes ainda patinam para alcançar o tão sonhado novo patamar de produtividade e entrega de resultado com a agilidade.

Um dos motivos pode estar na arquitetura tecnológica, que precisa acompanhar as práticas ágeis. Arquiteturas monolíticas, baseadas em tecnologias ultrapassadas e pesadas, funcionam como um freio para a agilidade.

As plataformas tecnológicas precisam evoluir junto com os métodos. Arquitetura baseada em microsserviço, plataformas em nuvem e pipes de integração são alguns exemplos. Além disso, plataformas de gerenciamento ponta a ponta da esteira do produto, embarcada com conceitos de DevSecOps³, também incentivam o sucesso das práticas ágeis.

Claro, adotar e migrar para esse tipo de tecnologia não é algo que fazemos de um mês para o outro. Porém, a agenda de 2023 precisa dessa pauta caso ainda não exista em sua organização. Pare um minuto e reflita: quantas vezes a agilidade já tomou um banho de água fria por limitações tecnológicas?

2) Agilidade com times híbridos:

Estamos vendo um movimento cada vez maior de retorno ao trabalho presencial, com dias remotos alternados com dias nos escritórios. Durante a fase mais dura da pandemia, tivemos que, rapidamente, aprender a lidar com o trabalho 100% remoto em muitas empresas. Agora, teremos uma nova curva de aprendizado com o modelo híbrido.

Apesar de não ser novidade, o modelo híbrido vem sendo formalmente instituído em muitas empresas que nunca o tinham experimentado. Ter parte de um time ágil em uma sala e parte no ambiente virtual requer a criação e adaptação de métodos, ferramentas e políticas de trabalho. A dinamicidade de cerimônias, o aspecto da gestão visual e a possibilidade da troca rápida e imediata entre os membros dos times têm que receber a devida atenção no modelo híbrido.

Tecnologias de colaboração, quadros virtuais e regras para reuniões híbridas4 ajudam a não excluir quem está no ambiente remoto e permitem que a flexibilidade do modelo híbrido não prejudique as práticas ágeis. Trabalhar com times híbridos é diferente de trabalhar com um time 100% remoto. É preciso tomar cuidado para que, pouco a pouco, esse modelo híbrido não se torne um gargalo para o ritmo da agilidade na sua organização. As práticas parecem teoricamente bem simples, mas o desafio de conseguir executá-las tem sido grande nas empresas que acompanhamos.

3) Desempenho e retorno dos times ágeis:

Quando o resultado não é nítido a olho nu, os números começam a ser cobrados para comprovação. Empresas investiram muito dinheiro em consultorias, tecnologias, treinamentos e adaptações em planos de cargos e salários nos últimos anos para adoção de práticas ágeis e, agora, temos percebido uma grande onda de demanda por estruturação de controles e indicadores que comprovem o aumento de produtividade que justifiquem tais investimentos.

Por mais que uma das características da agilidade seja a entrega de valor e foco no cliente final, muitas equipes têm dificuldade de mostrar isso em números. Isso pode refletir que, de fato, a entrega de valor não conseguiu se tornar um direcionador palpável para os times. Nesse caso, é importante rever as métricas que são usadas para comprovar a efetividade das equipes. Comece adotando um ou dois indicadores (OKR, métrica ou o nome que preferir) que reflitam diretamente o impacto gerado pelas entregas na percepção de valor do cliente final.

Questione-se: “Esse item do meu backlog existe por quê?”. Aprofunde essa pergunta quantas vezes for necessário até que chegue em uma justificativa atrelada aos processos principais de sua organização. Use essa métrica por um tempo para gerar questionamentos sobre o trabalho e as prioridades do time. Provavelmente, você irá encontrar ineficiências, desvirtuações de valor e até mesmo trabalhos que poderiam não existir na sua esteira ágil. Ainda, essa forma de medição melhora significativamente o diálogo com o cliente final.

Se essa ainda não é uma prática que seus times ágeis seguem, 2023 será um bom momento para tirar do papel as métricas reais de entrega de valor. O SAFe® tem um referencial aberto5 muito detalhado sobre esse tema.

4) Escalar agilidade com Governança:

Muitas empresas já estão experimentando as práticas ágeis há anos. Cada vez mais, como consultoria, somos buscados para apoiar as empresas no próximo passo: a ampliação da agilidade na organização.

Como sair de apenas alguns times numa área específica para um modelo de gestão corporativa ágil, abrangendo diferentes diretorias e temas? Essa jornada precisa ser feita de maneira estruturada.

Por muito tempo, a agilidade foi confundida com o abandono ou a redução exagerada de controles. Hoje, percebemos que esse é um grande engano. Para qualquer método adotado em grande escala, são necessárias práticas de governança que mantenham o controle e comportamentos em torno dos resultados e estratégias desejados pela corporação. Então, se você está pensando nesse próximo passo, lembre-se de instituir mecanismos de governança que sejam catalisadores das práticas ágeis ampliadas.

Defina, de maneira muito clara e direta, o “pode versus não pode” para os times, as práticas que costuram a interação entre áreas e tribos, os controles que devem existir, sua estrutura de reporte, dentre outros mecanismos. Acreditamos que crescer com as práticas ágeis sem essa definição clara dos mecanismos de governança é um grande “passo atrás” que a sua organização pode dar.

Conclusão

Com certeza, esses não são os únicos quatro pontos aos quais você deve se atentar em 2023 para não sabotar seus métodos ágeis. A gestão e a governança corporativa são temas historicamente desafiadores, independente da corrente contemporânea que esteja tentando resolvê-las.

As empresas precisam ajustar suas práticas periodicamente para que reflitam os resultados desejados e alavanquem novos patamares de desempenho. Os pontos mencionados neste post são aqueles que temos percebido como mais críticos dado o contexto global atual.

E na sua empresa? Quais têm sido os maiores desafios na busca da entrega de resultado com agilidade? Entre em contato com nossos especialistas.

Desejamos um 2023 de sucesso e avanço nas suas práticas ágeis!

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Sócia-diretora e cofundadora da Bridge & Co. Líder das práticas de Transformação Ágil e Estratégia Digital. Engenheira de Produção pela UFRJ, com MBA Executivo pela Fundação Getúlio Vargas.
Desenvolveu sua carreira como empreendedora e consultora, com foco nas disciplinas de engenharia de processos de negócio, gestão de serviços, governança, agilidade e transformação digital, tendo apoiado dezenas de organizações a repensarem estrategicamente o uso de tecnologias digitais em seus negócios.

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