O que está acontecendo com a TI?
Faça a seguinte experiência. Congele suas atuações profissionais por um ano, viaje para um lugar onde não haja sinal de celular nem rede sem fio. Por mais assustador que seja esse cenário proposto, tente imaginar isso acontecendo. Lembre-se que você não terá direito a entrar no Linkedin nem olhar as fotos de seus amigos no Instagram.
Antes de sair de viagem, faça uma lista das tendências de Tecnologia da Informação e dos nomes que estão na moda. Provavelmente, se você saísse de viagem hoje, sua lista teria nomes como:
- Internet das Coisas (IoT);
- Cloud Computing;
- Mídias Sociais;
- DevOps, entre outros.
Agora, para fechar essa primeira reflexão, imagine o seu retorno. Pense em você abrindo pela primeira vez o notebook, entrando no Linkedin ou acessando um report do Gartner.com para entender o que se passou nesses doze meses. Uma coisa é certa, uma nova sopa de letras, siglas e expressões “da moda” estaria em vigor. Você provavelmente se sentiria um pouco perdido e teria que marcar uma série de reuniões com seus colegas e com sua equipe para se situar novamente.
Por que isso acontece?
Em nossa análise, há duas forças propulsoras que movem essa história apresentada acima:
Temos um problema complexo de ser definido e mais difícil ainda de ser analisado: dada a Lei de Moore, é esperado que tenhamos avanços em larga escala na capacidade computacional ano após ano. Com isso, novas tecnologias dominantes e novas tendências de uso da tecnologia emergem em uma velocidade muito acelerada.
O grande problema é que o tempo das organizações é diferente. Estamos falando aqui de empresas com milhares, ou as vezes dezenas de milhares de funcionários. Estrutura organizacional rígida, modelos de governança multinacionais que não possibilitam decisões na velocidade que o “mundo digital” precisaria.
Temos um choque de realidades: Lei de Moore versus Tempo das Organizações.
A resposta da pergunta acima, para a maioria das empresas com as quais temos relação, não seria respondida em dias. Algumas responderiam em semanas e outras em meses. Agora pensem no tempo para a transformação digital e implantação de uma arquitetura que viabilize a integração com sensores espalhados em todos os veículos da frota nacional, integrados em um Command Center em Brasília. Com grande chance de certeza, estamos falando de meses ou até anos.
O “choque de realidade” exposto acima faz com que tenhamos um atropelamento de projetos de Tecnologia da Informação nos negócios. Uma tecnologia que ainda está sendo implantada (dado o tempo das organizações ser mais lento) já é considerada defasada de acordo com os centros de pesquisa e referência em benchmark internacional.
Com isso, a segunda força propulsora, O Mercado, aproveita de todo seu potencial de marketing e vendas para convencer os líderes de TI mundo afora a estar sempre acompanhando essas ondas (na verdade, Tsunamis) e consumir tecnologias que muitas vezes não trarão valor real para seus negócios.
Gastamos muito, sabendo pouco.
Gastamos muito porque tais tecnologias são caras. Cifras de sete dígitos são normais quando falamos em plataformas tecnológicas. Sabemos pouco, porque temos pouca (quando não é o caso de termos nenhuma) visibilidade do retorno que tais investimentos trarão para nossos negócios.
A questão cultural – mais um fator a ser considerado:
Outro fator pouco dito nos textos acadêmicos e nas conversas entre executivos é a influência negativa que nossa cultura de negócios gera no ambiente empresarial. Conversando com diversos CIOs de grandes empresas nacionais e multinacionais, percebemos um sentimento padrão que tentaremos traduzir na representação ilustrativa abaixo:
“Eu sei o que tenho que fazer. Estudei fora, tenho diversas experiências de grande porte, mas parece que os demais executivos não querem que a gente (TI) coloque nosso potencial para fora. Parece que eles preferem que a gente continue operando dessa forma mais informal, no modelo “faz lá…”. Pela minha experiência, parece que os executivos de negócio não estão dispostos a mudar o status atual da TI (no qual se beneficiam da falta de formalidade e do “jeito rápido para tudo”) para um patamar de mais maturidade, governança e segurança. Aí fica complicado…” (CIO Genérico, Brasil).
O Futuro:
Infelizmente (ou para nós, felizmente) esse post não trata de 5 passos milagrosos para resolver todos os problemas da TI. Aqui foram apresentadas verdades que permeiam o dia-a-dia das organizações e as dinâmicas de tomada de decisão das lideranças de TI.
Para finalizar, olhando para as organizações que estão com melhor desempenho no uso estratégico de TI conseguimos sintetizar suas características em:
- Os executivos de negócio e o board entendem a importância de a TI ter sua estrutura de processos, controles e governança formalizada, banindo a cultura do jeito, da informalidade e do “faz aí”.
- O CIO e a liderança de TI responsável por investimentos e projetos conseguem dizer não. Conseguem analisar com cautela quais das tendências e novas tecnologias de fato trarão valor real para o negócio e respondem com tranquilidade e firmeza: “Não iremos nos movimentar para a tecnologia XYZ…”.
- Implantam uma cultura mais ágil para projetos e decisões. Reduzem a burocracia que não agrega valor e elaboram mecanismos de gestão à vista, sem prejudicar padrões de governança estabelecidos. Reduzem o tempo de análise de tendências tecnológicas de meses para dias.
Finalizamos esse post citando um sábio acadêmico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professor da COPPE e da Escola Politécnica da UFRJ, Prof. Heitor Mansur Caulliraux: “O capitalismo ainda não absorveu a TI”. Fica a reflexão.