Publicado no cio.com.br
As cinco podem ser adotadas por grande parte das organizações sem, necessariamente, requerer um grande investimento para tal.
Quase todo negócio pode se tornar um empreendimento digital. Entretanto, alguns conseguem assumir esta característica de forma mais fácil que outros. Atualmente, a busca pela maturidade digital mostra-se como um dos maiores desafios dos CEO e CIO (e outros) em todo o mundo. Cada vez mais, as empresas estão se dando conta de que tornar seu negócio digital não é mais uma questão estratégica de diferenciação no mercado, mas uma necessidade para que sobrevivam diante de um cenário de incertezas.
O MIT (Massachusetts Institute of Technology), em parceria com a consultoria Deloitte, publicou recentemente uma pesquisa chamada “What enables digital maturity” (em português: “O que permite a maturidade digital”) baseada em um estudo realizado durante 6 anos (2011-2017) com a participação de mais de 3.500 executivos espalhados pelo globo. Nessa análise, é possível observar comportamentos e tendências que diferenciam empresas que encaram a transformação digital como algo indispensável daquelas que estão se esforçando para entender e se posicionar em relação ao tema.
De acordo com essa pesquisa, uma empresa digitalmente madura entende que ser digital vai além da utilização de novas tecnologias – é sobre sua preparação para se adaptar a um ambiente digital. Somente 25% dos entrevistados afirmaram que suas empresas se encaixam neste perfil. Considerando apenas a América do Sul, o número mostra-se ainda mais reduzido: somente 22% dos entrevistados acreditam que suas empresas são maduras digitalmente.
Seguindo esta linha de raciocínio, a pesquisa mostra dados relevantes em relação às diferenças entre empresas consideradas maduras digitalmente e as demais:
- 34% das empresas que estão no início de seu desenvolvimento digital afirmam que “ser digital” está somente no discurso (only talk) enquanto esta porcentagem em empresas consideradas maduras digitalmente é aproximadamente de 5%. Entretanto, quando perguntado se “ser digital” é um dos assuntos centrais da empresa, 66% das empresas maduras digitalmente responderam positivamente, enquanto aproximadamente 95% das empresas em estágio inicial responderam negativamente;
- Empresas maduras digitalmente possuem duas vezes mais chances de desenvolver uma estratégia baseada em um horizonte de 5 anos ou mais;
- Empresas maduras digitalmente priorizam experimentos digitais, pequenos ou grandes, que sejam interativos e de amplo impacto em seu negócio (52%), enquanto empresas em seu estágio inicial de desenvolvimento digital majoritariamente realizam pequenas iniciativas digitais sem a visão holística de seu negócio (58%);
- 71% das empresas consideradas maduras digitalmente incentivam a formação de equipes multidisciplinares e atuam ponta-a-ponta (transversalmente) na organização;
- 60% das empresas maduras digitalmente buscam se engajar numa cultura de negócios digital forte, com foco em tomada de riscos, colaboração, agilidade e contínuo aprendizados de seus recursos. Em contrapartida, menos de 5% das empresas em estágio inicial de desenvolvimento digital buscam este engajamento;
- Pessoas com nível de VP têm 15 vezes mais chances de sair de empresas em estágio inicial de desenvolvimento digital.
No contexto brasileiro, é possível observar que as empresas têm se esforçado cada vez mais para buscarem uma maior maturidade digital a fim de estarem mais preparadas para lidar com os desafios inerentes a nova era. Entretanto, é possível observar que uma série de obstáculos tendem a atrapalhar esta transformação digital.
Se analisarmos, por exemplo, a infraestrutura tecnológica disponível para as empresas brasileiras, pode-se destacar, dentre outras coisas, a baixa velocidade de internet móvel como fator nocivo à transformação digital. No ano de 2016, a OpenSignal, instituto internacional especializado na análise global das operações mobile, classificou o Brasil em 57º lugar no ranking de desempenho de internet 3G e 4G. Países como Coréia do Sul, Estados Unidos, Reino Unido e Japão apresentaram uma velocidade igual ou superior ao dobro da média brasileira. Já no contexto econômico, o pessimismo existente ocasionado pela crise política instaurada nos últimos anos colabora para que as empresas deixem o tema transformação digital em segundo plano em suas estratégias.
Os recursos disponíveis acabam sendo destinados, majoritariamente, para a sobrevivência da operação atual. De acordo com Delfim Neto, ex-ministro da Fazenda, somente a partir do segundo semestre de 2017 o cenário econômico brasileiro tende a ser atrativo. Esta afirmação pode ser corroborada pelo aumento do PIB em 1% no primeiro trimestre, após oito quedas consecutivas.
Estes são exemplos (existem mais) de circunstâncias que favorecem a insegurança dos CEO e CIO ao pensarem sobre investimentos digitais dentro das empresas brasileiras. Deste modo, ser assertivo quanto à estratégia e aplicação de recursos financeiros torna-se vital para o crescimento e sobrevivência destas organizações nas próximas décadas. Porém, como isso pode ser feito?
Inicialmente, é necessário entender quais são os princípios que servem de base para uma empresa ser considerada digital. Como dito anteriormente, ser digital vai além da tecnologia. Segundo Mark McDonald, diretor do setor de Estratégia Digital da Accenture, uma empresa torna-se digital quando consegue orientar sua tecnologia para apoiar estratégias que giram em torno de quatro elementos: clientes, crescimento sustentável, eficiência e inovação. Ao associar este raciocínio com os resultados apresentados pela pesquisa feita pelo MIT, é possível apontar cinco práticas que empresas brasileiras podem seguir para aumentar sua maturidade digital:
- Melhorar continuamente a experiência do cliente com seu produto ou serviço. Os clientes são a razão pela qual a era digital está mudando os negócios, pois a tecnologia, antes utilizada como propulsor interno da operação das empresas, está alcançando a “última linha”. Uma empresa madura digitalmente deve se concentrar em criar valor ao cliente através de interatividade, qualidade, preço e escolha.
- Pensar no negócio a longo prazo, buscando o crescimento sustentável. É necessário estar atento às tendências e redefinir os modelos de negócio de acordo com as oportunidades e ameaças do mercado. Para se tornar uma empresa madura digitalmente, é aconselhável ter um horizonte de, no mínimo, cinco anos.
- Garantir a eficiência dos principais processos através de soluções digitais. Qualquer um pode ser mais barato, mas uma empresa com princípios digitais oferece maior resultado por receita com mais precisão em escala – um novo princípio de eficiência. Priorizar experimentos digitais pequenos, porém que impactem amplamente a organização, é um caminho saudável para alcançar projetos maiores no futuro.
- Incentivar a criação de equipes talentosas, multidisciplinares e com visão holística do negócio. Fomentar uma cultura de negócios que favoreça a tomada de riscos, colaboração, agilidade, aprendizado contínuo e inovação colabora para a retenção e desenvolvimento de talentos dentro da organização. Além disso, não “aprisionar” a comunicação e a criatividade em silos corporativos colabora para que sejam feitas coisas novas de novas maneiras – encontrando novas respostas para novas questões.
- Garantir que as lideranças tenham a visão necessária para desenvolver uma estratégia digital. Os líderes que estão alinhados a uma estratégia digital devem buscar sempre simplificar a tomada de decisão, priorizar a diversidade e inclusão nas organizações e ter força para engajar os demais recursos da empresa.
É importante entender que os recursos tecnológicos não são o fim, mas as ferramentas habilitadoras e aceleradoras do processo de transformação digital. Os cinco pontos citados são apenas um começo na jornada de amadurecimento digital e podem ser adotados por grande parte das organizações sem, necessariamente, requerer um grande investimento para tal. Entender que a maturidade digital diz respeito a um processo contínuo de adaptação a novas realidades é o que separará os grandes players de mercado nos próximos anos.
Luiz Eduardo Telles é Diretor Associado da Bridge Consulting. Formado em Engenharia de Produção pelo CEFET/RJ e certificado CBPP, atua e é responsável por diferentes projetos em empresas públicas e privadas com foco em Gestão de Processos de Negócio, Governança e Gestão de TI.