Palavras Iniciais
Inícios de ano, em geral, são marcados por uma série de publicações que tratam das tendências de investimento em tecnologia. No cenário atual, em que líderes empresariais buscam identificar oportunidades de revisão dos seus modelos de negócio por meio da transformação digital e, ao mesmo tempo, tentam mitigar ameaças de novos entrantes que possam alterar o terreno competitivo, ter conhecimento do que está por vir em termos de tecnologia é fundamental para perenidade dos negócios.
A tarefa para os líderes empresariais é árdua. Existem diferentes fontes relevantes que tratam do tema e, somadas, demandariam dezenas de horas de leitura. Nesse sentido, publicamos este post com o intuito de trazer uma síntese da pesquisa que fizemos nas principais fontes relevantes sobre o que tende a ser prioridade em 2020 no tema Transformação Digital. Esperamos que a leitura seja útil para você e para sua organização:
Introdução
Transformação Digital é só mais uma buzzword do mundo agitado do marketing ou de fato estamos vendo uma transformação acelerada no cenário competitivo mundial? Após cerca de cinco anos em que o termo vem sendo usado massivamente por empresas de tecnologia e consultoria, vemos agora em 2020 uma interessante guinada de discurso.
Após acompanhar de perto empresas de grande porte e organizações públicas discutindo estratégias de transformação e tendo severas dificuldades de avançar em direção a mudanças abruptas, vemos agora um senso de realismo voltando à tona.
Se olharmos todo o conjunto de organizações atuantes no mundo hoje, a grande maioria delas não irá se transformar digitalmente. Enquanto um conjunto muito pequeno fará mudanças drásticas do cenário competitivo em seus setores, o grande volume de empresas existentes conviverá ainda por muitos anos com o modelo híbrido físico-digital buscando melhorias incrementais por meio da tecnologia.
– Carlos Eduardo Carvalho, Bridge Consulting, 2019
E por que afirmamos isso? Por uma questão estrutural: não existe oferta suficiente de mão de obra especializada, de mentes empreendedoras com apetite a risco e oferta tecnológica realmente madura para possibilitar uma transformação global em larga escala. A chance estatística de você, leitor, estar em uma organização agora que está ainda engatinhando em assuntos digitais, enquanto ainda tenta manter sua infraestrutura básica de TI ativa e no ar, é grande.
As organizações serão tão digitais quanto for a capacidade do mercado, dos consumidores e da sociedade de absorver essa transformação.
– Gartner SVP, Val Stribar, 2019
O que se espera de líderes empresariais nesse novo contexto, mais crítico do que o dos últimos anos, é que entendam quais tecnologias já estão disponíveis para consumo em um grau que o mercado e sociedade de fato possam utilizar e quais são as tendências que ainda não trazem grau de exequibilidade adequado para justificar investimentos em larga escala.
As 8 Principais Tendências para 2020
Segundo análise do Gartner Group®, o conceito de hiperautomação vai além da busca por automatizar tarefas repetitivas. O foco agora está na junção de tecnologias de automação de tarefas, como o RPA (Robotic Process Automation), Machine Learning + Inteligência Artificial, convivendo com softwares legados e produtos de prateleira.
Começamos a ouvir esboços de uma evolução da sigla para IPA (Intelligent Process Automation), refletindo a evolução descrita acima. Daniel Newman publicou a recente matéria da Forbes.com (Top 10 Digital Transformation Trends For 2020) apontando RPA como uma tendência que continuará em alta em 2020, por mais que não seja novidade em si. O fato é que, em nossa análise observando principalmente o mercado brasileiro, ainda há muito espaço para avanço e crescimento desta tecnologia nas organizações, uma vez que o discurso de automatização de tarefas de backoffice, melhor aproveitamento dos profissionais existentes e consequente redução de custos são música para os ouvidos de executivos e conselhos de administração.
Segundo análise da Forrester, que também aponta esta como uma das principais tendências de 2020, a automação crescente via RPA e outras tecnologias irá gerar a substituição de mais de um milhão de postos de trabalho no mundo relativos a profissionais que operam tarefas transacionais, apenas neste ano.
Vemos então que a hiperautomação é uma tendência que faz com que as empresas não objetivem automatizar apenas tarefas repetitivas e simples, mas também atividades que envolvam captura, análise e decisão com base em dados. Trata-se da junção dos temas RPA, Inteligência Artificial e Machine Learning.
Com ênfase na experiência do cliente e do usuário (CX e UX), a multiexperiência consiste na aplicação de tecnologias como, Realidade Aumentada, Realidade Mista e Realidade Virtual, para proporcionar maior interação entre o mundo real e digital em novos produtos e serviços. Na prática, é imprescindível que as equipes de desenvolvimento dominem o design, o desenvolvimento e a arquitetura de aplicativos móveis, pois eles são a porta de entrada para a multiexperiência.
Além das tecnologias citadas, a consultoria Deloitte introduz a neurociência como um campo de estudo relevante para o desenvolvimento de dispositivos que utilizam Inteligência Artificial em prol da multiexperiência do cliente. Este seria o próximo estágio de interação homem-máquina, denominado experiência humana (HX), no qual plataformas incluirão o reconhecimento de expressões para compreender emoções humanas e, a partir delas, sugerir serviços e soluções. De acordo com estudo da Deloitte Digital sobre o tema, empresas focadas em HX terão um crescimento de receita dezessete vezes mais rápido do que aquelas que não incorporarem.
Para a Forbes, o sucesso da transformação digital está intimamente ligado ao aperfeiçoamento das experiências do cliente e usuário, justificando a permanência do tema entre as tendências apontadas para os próximos anos. Contudo, 2020 é o ano em que os CEOs esperam que as iniciativas de CX saiam da fase experimental e provem suas contribuições para o negócio, de acordo com o relatório Predictions 2020 da Forrester.
A expectativa é que a multiexperiência aplicada à satisfação do cliente combine tecnologia, criatividade e profunda compreensão do ser humano.
Popularizado com o avanço do Bitcoin, criptomoeda utilizada para transações virtuais, a tecnologia blockchain segue na lista das tendências tecnológicas para os próximos anos. Devido ao seu potencial disruptivo, garantindo a rastreabilidade e segurança das relações de negócios, os benefícios da sua aplicação vêm sendo reconhecidos por outros setores como, logística, saúde e energia.
Segundo o Gartner, que mantém o blockchain como tendência desde 2017, esta tecnologia representa um vetor de aceleração para o negócio digital, criando um modelo econômico e social descentralizado. Até 2023, a blockchain apoiará o movimento global e o rastreamento de US$ 2 trilhões em bens e serviços anualmente. (Gartner, Predicts 2019: Blockchain Business)
Líderes globais como, Samsung, Microsoft, IBM e Amazon destacam-se no investimento nesta tecnologia. Em 2019, a Amazon Web Services Inc. anunciou a disponibilidade do Amazon Managed Blockchain, um serviço de blockchain, totalmente gerenciado, que torna fácil e econômico para os clientes criarem e gerenciarem redes seguras que podem ser dimensionadas para suportar milhões de transações.
Estendendo-se a outros setores, o Walmart, por exemplo, trabalha em parceria com a IBM desde 2016 para otimizar suas atividades com o uso do blockchain. A previsão é de que, até 2023, mais de 80% dos maiores projetos bem-sucedidos de blockchain estejam fora dos serviços financeiros.
As diversas aplicações ao redor do mundo comprovam, portanto, a expectativa em torno da consolidação dessa tecnologia. Espera-se que o blockchain revolucione o formato das nossas transações, aumentando os níveis de segurança e confiança essenciais aos negócios.
Após o advento da norma europeia de proteção de dados (GPDR) e da mais recente lei brasileira de proteção de dados (LGPD), o tema privacidade e transparência em relação ao uso de dados, principalmente de pessoas físicas, torna-se um dos mais críticos para 2020.
Considerado como tema crítico na agenda de 2020 pelo Gartner Group® (Transparency and Traceability), pela consultoria Delloite® (Ethical Technology and Trust), pela Forbes® (Digital Privacy) pela Forrester® (Privacy Concerns) e por um conjunto vasto de outras referências, entendemos que a sociedade não voltará atrás em relação à exigência de transparência e uso adequado dos seus dados pessoais.
As discussões sobre privacidade e ética no uso de tecnologia tendem a extrapolar a questão do uso de dados pessoais sem permissão e o mercado de compra e venda de informações sem autorização. A tendência de uso cada vez maior de Inteligência Artificial em algoritmos de tomada de decisão, chatbots e demais robôs traz à tona o debate sobre aspectos de limites éticos e privacidade para o novo campo da IA. O Gartner® prevê que até 2025, 30% dos contratos feitos por governos e grandes empresas irão demandar dos fornecedores de soluções digitais com IA que demonstrem como questões de ética e privacidade estão inseridas nas soluções.
Seja na aderência brasileira à LGPD, nos controles europeus da GPDR ou no simples fato de que a sociedade cada vez mais será intolerante aos escândalos de uso inadequado de seus dados, entendemos que as organizações em 2020 terão o árduo trabalho de lidar com seus sistemas legados, suas milhares de planilhas Ms. Excel e as demais fontes de dados para adequar-se à nova era em que cidadãos entenderam o potencial e valor de seus dados e não estão mais dispostos a entregá-los de bandeja a quem iria gerar lucro com seu uso indevido.
Historicamente, nos acostumamos a ter três classificações diferentes para os serviços de computação em nuvem: a nuvem pública, na qual o provedor entrega serviços de tecnologia via internet, em geral possuindo uma infraestrutura centralizada de data center; a nuvem privada, na qual o provedor cria a oferta de um serviço de tecnologia dedicado ao cliente e entrega sob um aspecto de nuvem; e a nuvem híbrida, na qual a combinação de serviços de nuvem pública e privada busca dar ao cliente uma solução custo-efetiva, segura e redundante de serviços de tecnologia.
O modelo de nuvem distribuída parte então para um cenário em que o processamento, armazenamento, segurança e controle das transações migram de um local físico centralizado – em geral os grandes data centers das provedoras de serviços de nuvem – para um modelo distribuído objetivando maior proximidade com o consumo.
Nesse sentido, a ponta pode ser um pequeno data center localizado perto ou nas instalações do cliente, indo até para um cenário em que tudo isso é feito “na borda”, isto é, em dispositivos que estão espalhados dentro do local de consumo.
A evolução da nuvem distribuída fornecerá cada vez mais conjunto comum ou complementar de serviços que poderão ser gerenciados de forma centralizada, mas entregues no ambiente de borda para execução.
– Gartner, Top 10 Strategic Technology Trends for 2020
Dentre as tendências listadas, identificamos nesta a principal força motriz de transformação. Aplicações reais de IA já estão disponíveis para o consumo em larga escala, como os exemplos do Waze, Spotify e Netflix. Além disso, aplicações cada vez mais de nicho estão trazendo valor de negócio para as organizações que lidam com análises complexas de dados e modelagem de cenários de tomada de decisão.
A inteligência artificial é um catalisador fundamental para automação avançada de processos e para o aumento das capacidades humanas – tradução do inglês human augmentation.
– Gartner, Top 10 Strategic Technology Trends for 2020
Enquanto a hiperautomação trará ganhos de eficiência, aumento de controle e redução de riscos operacionais, apenas com o advento da combinação de robótica com inteligência artificial que saltaremos para outro padrão de convívio com máquinas inteligentes em nosso ambiente de trabalho.
O Gartner Group® prevê que até 2020, pelo menos 40% dos projetos de desenvolvimento de sistemas terão desenvolvedores especialistas em Inteligência Artificial para criação de soluções “AI based”.
A Inteligência Artificial hoje já é vista como a forma para ter experiências cada vez mais personalizadas de consumo. Gigantes de tecnologia como Amazon, Google e Alibaba utilizam técnicas de IA para entregar recomendações de consumo de produtos e de conteúdo de forma mais individual possível.
Outra perspectiva de avanço da IA trazida pelo Bernard Marr, escritor que cobre tendências tecnológicas na Forbes.com, é a sua presença cada vez maior em dispositivos que usamos e vestimos: relógios, celulares e pulseiras de medição e atividade, por exemplo, passam a ser embarcadas por tecnologias com inteligência para entender os sinais captados e propor ações com base em séries comportamentais.
Enquanto por alguns anos tínhamos os “Carros Autônomos” como uma tendência, as publicações que tratam de cenários futuros começam a expandir o termo para “Coisas Autônomas”. Em países desenvolvidos, como os Estados Unidos e Suécia, já são vistas frotas de caminhões e outros meios de transporte começando a ser testados sem a necessidade de um operador. Veículos voadores não tripulados começam a ter aplicabilidade fora do mundo militar como em entregas, monitoramento de vias e transporte de pessoas.
Gerar autonomia às coisas é uma tendência destacada nas principais fontes consultadas. Coisas essas das mais diversas naturezas, não apenas de transporte. Um aparelho que monitora a saúde do paciente ter autonomia para acionar uma ambulância ou o médico familiar no caso de um problema grave, robôs de combate a incêndio serem acionados e agirem para contenção do foco inicial de incêndios, evitando maiores desastres, dentre outros exemplos.
A autonomia das coisas, por outro lado, tem diversas barreiras que tendem a fazer com que essa tendência ainda caminhe por terrenos áridos. Questões legais e infraestrutura são mapeadas como os principais obstáculos ao avanço mais rápido dessas tecnologias. Dimitri Dolgov, chefe de engenharia da Wayomo, empresa que está juntamente com a Google conduzindo uma das maiores empreitadas para construção de carros autônomos, afirma que:
O nível 5 (considerado de autonomia total) está longe. Nem os humanos são capazes de estar o tempo todo à frente do carro. Até mesmo eles têm de ser tirados da frente do volante algumas vezes.
– Dimitri Dolgov, chefe de Engenharia da Wayomo
O fato de que as tecnologias ainda estejam amadurecendo e que os países ainda estão discutindo os marcos legais não deve frear, todavia, as pesquisas e o monitoramento próximo dessa tendência. As possibilidades de impacto, principalmente em setores da indústria que operam transporte em larga escala, são enormes. Os Impactos também são previstos para transportes internos em armazéns de carga, centros de distribuição e logística, transporte de passageiros e entrega.
No cenário em que a Internet da Coisas (do Inglês IoT, Internet of Things) avança nas organizações mundo afora, uma abordagem de projeto está se tornando dominante: a construção de gêmeos digitais. Uma das premissas do conceito de gêmeos digitais é que o mundo físico e o mundo digital cada vez mais serão mesclados em ambientes ciberfísicos.
Pense uma planta industrial composta por maquinário de produção, sensores e sistemas integrados de projeto e manufatura. A combinação cada vez maior de físico e digital está criando ambientes sistêmicos complexos, cada vez mais diversos pelo advento de IoT.
Dada tamanha complexidade, surge um padrão de projeto visto internacionalmente: replicar tal projeto ciberfísico em ambiente de simulação digital para que sejam testadas e validadas as características funcionais do sistema antes de iniciar sua operação.
Em uma refinaria, por exemplo, a criação de um gêmeo digital de um ambiente de refino pode possibilitar a identificação prévia do comportamento de sistemas hidráulicos, mecânicos e elétricos, prevendo e evitando falhas e até desastres.
O gêmeo digital é, então, a reprodução idêntica de um sistema produtivo, ciberfísico, em ambiente de simulação. Diversas indústrias já o utilizam, como a de extração e refino de petróleo, aviação civil, aeroespacial, militar, entre outras. A tendência está na expansão deste conceito para ambientes corporativos mais tradicionais e gestão pública. Por que não simular o gêmeo digital de uma universidade funcionando em dias de provas finais? Ou a dinâmica de segurança de um estádio de futebol? É para esse Norte que vemos a evolução cada vez maior dessa tendência.
Uma das pioneiras na estratégia de projeto de gêmeos digitais é a NASA®. John Vickers, líder de manufatura do Centro Nacional de Manufatura Avançada comentou em 2017:
A visão definitiva para o gêmeo digital é criar, testar e construir nossos equipamentos em um ambiente virtual. Somente quando chegamos ao ponto em que ele atende aos nossos requisitos é que fabricamos fisicamente. Em seguida, queremos que a construção física se vincule ao seu gêmeo digital através de sensores, para que o gêmeo digital contenha todas as informações que poderíamos ter ao inspecionar a construção física.
– John Vickers, NASA®, 2017
Conclusão
Essas são, portanto, as tendências que destacamos para o ano de 2020. Entender e acompanhar a evolução das tendências tecnológicas é vital para o sucesso dos negócios, porém, destacamos que tão importante quanto é o senso de realismo e de pragmatismo para entendermos que o mundo híbrido, físico-digital, será o dominante para a maioria das organizações por anos a frente ainda.
A Bridge Consulting pode auxiliar a definir e conduzir a jornada de Transformação Digital em sua organização. Entre em contato conosco!
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