Para algumas empresas, o grande obstáculo da transformação ágil pode não ser a adoção das rotinas ágeis em si, mas a concepção dos primeiros produtos que surgem na transição para as novas metodologias. As áreas de negócios buscam definir o que e quando será entregue. Assim, são assumidos compromissos de entrega por pressão da gestão que podem prejudicar a liberdade para a experimentação tão desejada na agilidade. Com isso, o processo de criação de um novo produto muitas vezes é ignorado ou subestimado.
Segundo o 14th Annual State of Agile Report (2020), duas das razões mais frequentes para as empresas iniciarem o processo de transformação ágil são a busca por maior alinhamento das unidades de negócios com a TI e a necessidade de acelerar as entregas dos projetos. Entretanto, em muitos clientes, vemos que a subvalorização do processo de criação prejudica exatamente as razões apontadas anteriormente.
Como consequência, temos produtos em sua fase inicial com uma exaustão de informações e requisitos como num projeto tradicional. Com isso, elabora-se um backlog extenso, com entregas previstas para longo prazo e tempo de entrega delimitados sem um aprofundamento maior dos requisitos mínimos e esforço.
Apesar das metodologias ágeis possuírem um direcionamento claro de como executar os projetos, com eventos, artefatos e papéis bem definidos, as instruções para concepção da solução não são tão padronizadas, cabendo a cada product owner desenvolver um modelo de trabalho que funcione.
Nesse sentido, é importante considerarmos uma das características mais importantes da agilidade: seus métodos não são prescritivos. Dessa forma, temos liberdade para experimentar e explorar técnicas, ferramentas e frameworks que podem nos auxiliar na implementação e desenvolvimento de trabalhos desse tipo.
Neste post, portanto, trazemos algumas técnicas do Design Thinking e o Lean Inception que podem ajudar as organizações na concepção da solução e visão do produto.
1 - Design Thinking
O Design Thinking é um processo iterativo, centrado nas necessidades humanas, para resolver problemas por meio da criatividade e inovação. Com ele, podemos desenvolver melhores produtos, serviços e processos internos a partir da observação e experimentação. Apresentamos abaixo as principais etapas envolvidas nesse processo:
Fonte: adaptado e traduzido de IDEO.
Sob a perspectiva do produto, o Design Thinking possibilita que a equipe tenha maior facilidade no entendimento das dores do cliente por meio da empatia. O ato de se colocar no lugar de quem sofre com o problema permite uma visão aproximada da realidade, gerando insights cruciais para o desenvolvimento de um produto alinhado às necessidades de negócio.
Já a idealização, destaca-se como um ponto-chave porque é nesse momento que a equipe propõe as possíveis soluções. Então, quanto mais propostas, maiores serão as chances de sucesso do projeto.
Outro fator de destaque do Design Thinking são os ganhos com a experimentação através de protótipos. O product owner tem seu trabalho facilitado, já que interage com o cliente a fim de obter feedbacks para aperfeiçoamento tanto da solução, como do processo de construção. Assim, retrabalhos podem ser evitados antes mesmo do desenvolvimento do produto final.
2 - Lean Inception
O Lean Inception é um workshop que busca alinhar o entendimento das áreas de negócios com as áreas técnicas sobre um produto através do desenvolvimento de um mínimo produto viável (MVP – Minimum viable product). Nele são descritas algumas etapas para a seleção das funcionalidades que irão compor o backlog.
O método traz algumas ferramentas interessantes para delimitar até onde o produto deve ir e restringir o MVP às entregas principais que geram valor. As interações sugeridas fomentam a elaboração de uma visão do produto.
Matriz É/ Não é/ Faz/ Não faz
Muitos times fazem, juntamente com as áreas de negócios, brainstormings de quais funcionalidades o produto deve possuir e como o produto deve ser. No entanto, poucos falam das limitações, ou seja, daquilo que não será o objetivo neste momento. Por isso, a dinâmica Produto é, Não é, Faz e Não faz facilita a concepção ao delimitar até aonde o MVP irá.
A partir do preenchimento dos quadrantes, o time terá rapidamente uma visão mais clara das necessidades e desejos do cliente com alguns limites estabelecidos, permitindo um gerenciamento mais eficaz do backlog.
Bridge & Co. (2021)
Criação de personas
Bem como o Design Thinking, o Lean Inception também utiliza a empatia para gerar soluções aderentes ao que o cliente precisa. Para isso, são criadas personas (perfis de possíveis usuários) que permitem entender melhor o público-alvo e sua interação com o produto em diversas dimensões.
Com as personas criadas é possível apontar as funcionalidades que atenderão as necessidades levantadas.
Bridge & Co. (2021)
Jornada do usuário
A jornada do usuário permite entender a interação das personas com o produto e suas funcionalidades a partir da rotina, focando em como as funcionalidades se encaixariam e quais são mais importantes, possibilitando que o time planeje vários MVPs e, dessa forma, defina um ordenamento de entregas. Considerando a possibilidade de nem todas as funcionalidades serem implementadas de uma única vez, o resultado desse trabalho ajuda a formar o próprio backlog do produto.
Canvas
Por fim, a criação de um canvas ajuda a ter todas as informações necessárias do MVP visualmente distribuídas e sintetizadas. Seu preenchimento contribuirá para enfatizar quais funcionalidades serão desenvolvidas, observando os desafios técnicos, prazos e custos.
Bridge & Co. (2021)
Conclusão
A concepção de produtos não é uma tarefa simples, porém necessária para o sucesso do lançamento. Entender o cliente e suas necessidades exige esforço e dedicação dos times para o mapeamento correto das funcionalidades que irão gerar valor.
Os dois métodos apresentados auxiliam nesse desafio da concepção, tornando-o mais organizado e focado. Ressalta-se, no entanto, que o Design Thinking e o Lean Inception são apenas duas técnicas dentre várias que podemos utilizar em conjunto com a agilidade para facilitar a construção da visão do produto.
Em ambos os casos, é possível retroceder etapas com o propósito de aprimorá-las, de forma alinhada aos princípios ágeis, garantindo uma maior capacidade de resposta às mudanças e ajuste no direcionamento dos esforços. Além disso, as interações com os clientes são valorizadas, visto que é através delas que as proposições de soluções são elaboradas.
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Mariana Vitali é líder de projetos da Bridge & Co. Possui formação em Engenharia de Produção pela UFRJ e certificações Scrum Master, Product Owner, Scrum Foundation e ITIL® Foundation. Gerencia equipes com foco em gestão de processos de TI e negócio, gestão de projetos de TI e gestão de serviços em clientes dos setores público e privado.
Gabriel Lima é engenheiro de produção, com extensão em Empreendedorismo e Inovação, formado pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Possui certificações Scrum Master, PMP, Lean IT e Green Belt Six Sigma, além de cursar MBA em Engenharia e Gestão de Processos pela UFRJ. Atua como consultor com foco em gerenciamento de projetos e melhorias de processos em clientes do setor público e privado.